A obra traça a história do Real Seminário de Música da Patriarcal, estabelecimento especializado no ensino da música, criado por D. João V, em 1713, seguindo a tradição das escolas que há vários séculos formavam os meninos de coro das grandes catedrais e das capelas de Corte europeias. O Seminário da Patriarcal, que só foi encerrado em 1834, na sequência da extinção das ordens religiosas, é a mais importante escola de música em Portugal antes da criação do Conservatório, em 1835, tendo sido responsável pela formação dos mais importantes compositores portugueses setecentistas.
A criação do Seminário da Patriarcal, anexo à Capela Real de Lisboa, constitui um dos pilares do investimento artístico e da política de prestígio do Rei-Magnânimo que viria a dotar a Capela Real, elevada ao estatuto de Patriarcal em 1716, de um esplendor cerimonial comparável ao da Corte Pontifícia. Para a Basílica Patriarcal são recrutados os melhores profissionais portugueses, bem como músicos estrangeiros de grande craveira, de que são exemplos Domenico Scarlatti (1685-1757), Giovanni Giorgi (fl. 1762) e diversos cantores italianos, vários deles castrati, oriundos da Cappella Giulia da Basílica de S. Pedro de Roma. É de entre os discípulos mais talentosos do Seminário que são selecionados os primeiros bolseiros da Coroa que irão aperfeiçoar a sua formação musical em Roma, dos quais se destacam António Teixeira (1707-1774), João Rodrigues Esteves (ca. 1700-ca. 1752) e Francisco António de Almeida (ca. 1702-1755), compositores de elevado mérito que desempenharam importantes papéis na vida musical portuguesa.
«Boa voz de tiple» (ou soprano) era um dos requisitos essenciais exigidos aos candidatos a alunos internos do Real Seminário de Música da Patriarcal. Ao terminar os estudos, os alunos deveriam ter adquirido a «sciencia de música», incluindo o domínio do contraponto e da composição, e «prendas de acompanhamento», ou seja, competências de elevado nível na arte da realização do baixo contínuo, da arte de acompanhar e da improvisação.
Além de capítulos dedicados à história da instituição, à administração e ao sistema de ensino, a obra fornece uma panorâmica dos principais mestres e alunos, bem como dos manuais didácticos, métodos e repertórios utilizados.
A publicação inclui ainda o fac-símile dos Estatutos do Seminário da Santa Igreja da Patriarcal, de 1764, cujo manuscrito se encontra na Biblioteca Nacional de Portugal (CÓD. 3693), e é uma edição conjunta da BNP e do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos de Música e Dança da Universidade Nova de Lisboa (INET-MD).
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